Projeto Educativo
Minuto Lumière
O projeto Minuto Lumière nasce da urgência de recuperar o olhar: num tempo saturado de estímulos e imagens instantâneas, propomos a câmara – neste caso, o telemóvel – como gesto de desaceleração, de escuta e de atenção. A atenção, nesse sentido, é política. A fragilidade técnica do medium – que limita, desfoca, treme – torna-se aqui um trunfo: convida ao essencialismo, à contenção, a uma estética da atenção.
Não se trata de ensinar cinema. Trata-se de colocar os alunos – especialmente os que vivem entre diferentes línguas, pertenças e geografias – no centro de um processo de descoberta: do que é ver, do que é mostrar, do que é contar. Um contar que passa pelo corpo, pela luz, pela escuta do real. Um cinema do instinto e da presença.
Ao longo do percurso, torna-se claro que este projeto encontra ressonância particular junto de alunos muitas vezes à margem do modelo escolar tradicional. Através do Minuto Lumière, sentem-se vistos e capazes de ver. O cinema, aqui, é linguagem, mas é também território de reconhecimento.
Se há algo que move este projeto é a vontade de devolver à escola a sua dimensão poética e transformadora. E ao cinema, o seu poder original de descoberta e partilha. O Minuto Lumière é isso: um convite a ver o mundo como se fosse a primeira vez.
Enquadramento do Projeto
O Minuto Lumière é um dispositivo pedagógico baseado num exercício clássico de iniciação cinematográfica: a gravação de um plano fixo de um minuto com início e fim determinados, inspirado nas primeiras experiências dos irmãos Lumière.
Desenvolvido em escolas públicas da Grande Lisboa, este projeto tem como principal ferramenta o telemóvel, resgatando-o da lógica dispersiva da cultura digital para uma função de reconexão com o real. A proposta é simples mas exigente: observar, escutar, escolher e enquadrar.
No último ano, o Minuto Lumière foi implementado em mais de 50 sessões escolares, com a participação de cerca de 300 alunos de contextos altamente diversos – desde agrupamentos suburbanos até escolas com forte presença de alunos estrangeiros.
A experiência pedagógica foi realizada no contexto do Plano Nacional de Cinema, com coordenação direta em escolas como a Escola Secundária de Odivelas.
Contexto e Relevância
O projeto opera no cruzamento entre cinema, educação e cidadania. Dirige-se a alunos do ensino básico e secundário, privilegiando realidades marcadas por multiculturalidade, por deslocamento cultural e por fragilidades de expressão individual.
Num contexto escolar muitas vezes formatado pela rigidez curricular e pela lógica de resultados, o Minuto Lumière introduz uma pedagogia da atenção, da presença e da contemplação. O exercício convida os alunos a saírem de si e a verem o mundo – e, através dessa experiência, a reencontrarem-se.
“num tempo saturado de imagens e estímulos imediatistas propomos a utilização do telemóvel como gesto de desaceleração, de escuta e atenção - uma inversão: o telemóvel como instrumento de inscrição consciente no espaço vivido e não de alienação do mesmo.”
Nova parceria - Periferias Dibujadas
Periferias Dibujadas é um ‘observatório improvável’ das transformações e dos conflitos urbanos, centrando-se nas vozes e intervenções das crianças. Com base na pedagogia já testada e amplamente aplicada, aborda dinâmicas globais através de intervenções locais. As crianças aprendem as ferramentas necessárias para se tornarem investigadoras do seu contexto urbano imediato através da etnografia multimodal e da arte. Em colaboração com inumeráveis crianças e também artistas, educadoras e investigadoras, esta iniciativa tem desenvolvido projetos no cruzamento da investigação urbana e arte comunitária, em bairros como Albayzín (Granada), Anjos (Lisboa) e Barra (Nápoles), entre outros.
A recolha e (re) interpretação de saberes locais e práticas culturais do bairro, realizam-se com o protagonismo das crianças como investigadoras e criadoras, através de caminhadas, entrevistas a vizinhas/os e comerciantes, mapeamentos afetivos, utilizando métodos multimodais: desenhos, colagens, banda desenhada, áudio, vídeo, stop motion e mapas coletivos como ferramenta de exploração e expressão.

A colaboração com o Cinalfama manifesta-se em duas vertentes:
A partir deste ano será inserida uma secção no festival Cinalfama que centra o olhar das crianças sobre o seu contexto urbano e não só. Com a curadoria de periferias dibujadas, serão projetados filmes feitos por crianças ou em colaboração com crianças. Estas sessões, dedicadas a todas as idades, têm como objetivo chamar atenção para a importância de conhecer a perspectiva, o olhar e o conhecimento das crianças sobre a cidade que habitam. A outra vertente, mais ao longo prazo, trata-se uma colaboração que envolve também a APPA - Associação do Património e da População de Alfama - com o objetivo de implementar um processo de investigação colaborativa com as crianças, também na zona de Alfama.